Uma zebra chamada Tubarão

O ano de 2001 foi especial para o Tubarão Futebol Clube, com o terceiro lugar no Estadual e a participação na Série C. A classificação no Catarinense rendeu ao clube a vaga para a Copa Sul-Minas 2002, que pela primeira vez foi organizada como uma liga, onde 16 clubes, quatro por estado, participaram da competição que, até mesmo, rebaixaria duas equipes.

O ano começou difícil. Uma crise financeira assolava a equipe, que não havia recebido a verba de uma parceira alemã, que posteriormente foi resolvido. A folha de pagamento era de 70 mil reais mensais, com média de três mil por jogador e o salário atrasava nos primeiros meses de preparação.

A Copa Sul-Minas era tratada pela imprensa como o possível “melhor regional” do Brasil, tanto que o Tubarão recebeu cerca de 600 mil reais pelos direitos de transmissão, que ajudaram na resolução da crise. O valor era maior, por exemplo, do que Náutico, Fortaleza, Santa Cruz e Ceará receberam no Campeonato do Nordeste.

Nesse cenário, o elenco do clube foi formado por jovens jogadores, incluindo vice-campeões estaduais juvenis no ano anterior. Entre os atletas do elenco estava Raphael Zabot, zagueiro, na época com 22 anos, nascido em Tubarão. “Nosso time era bom. Só que ser só bom não bastava. Jogaríamos contra grandes equipes e sabíamos que precisávamos de algo mais. Era um time jovem, marcávamos muito e corríamos o tempo todo. As peças se encaixaram e tudo deu certo”.

Na primeira foto, o goleiro Márcio e o zagueiro Tárcio. Na terceira foto, Marcelo Fumaça (camisa 9) e em seguida, o meia Bagnara (Fotos: Homero Roberge)
Na primeira foto, o goleiro Miguel e o zagueiro Tárcio. Na terceira foto, Marcelo Fumaça (camisa 9) e em seguida, o meia Bagnara (Fotos: Homero Roberge)

A edição 2002 foi disputada na primeira fase em turno único, onde os quatro melhores se classificavam para as semifinais. Ao fim da sexta rodada, a equipe era líder da competição. Nas oito primeiras rodadas, o Tubarão teve quatro vitórias, três empates e uma derrota, até que Arnaldo Lira, então treinador, decidiu sair do clube para assumir o Pelotas, em uma ida conturbada, onde o clube catarinense tentou brecar a saída, devido a um possível pagamento de rescisão de contrato.

O último jogo de Lira ficou marcado para Raphael. “A vitória contra o Atlético (MG), em casa, com certeza foi marcante. Vitória no último minuto. Foi muito emocionante”. O gol foi assinalado por Marquinhos Mossoró, em um belo chute fora da área (vídeo abaixo, a partir de 1’31’’).

Hélio Vieira assumiu a equipe e chegou a última rodada com chances claras de classificação. Precisava vencer o líder Cruzeiro, fora de casa, e torcer para que entre Atlético (MG), Atlético (PR) e Grêmio, um deles perdesse sua partida. O Tubarão foi valente e venceu o desinteressado Cruzeiro, com time misto, por 2 a 1 e a classificação estava encaminhada com o empate entre América (MG) e Atlético (PR), mas o Furacão virou a partida e a histórica campanha que poderia ter sido maior foi encerrada.

Escalação da equipe para o jogo contra o Inter, pela 7ª rodada. Abaixo há um vídeo com um compacto da partida (Reprodução)
Escalação da equipe para o jogo contra o Inter, pela 7ª rodada. Abaixo há um vídeo com um compacto da partida (Reprodução)

O Galo e o Tubarão terminaram empatados, com 28 pontos na primeira fase. Mas a classificação poderia ser diferente. Na penúltima rodada, o Pelotas, clube de Arnaldo Lira, e Atlético (MG) se enfrentavam, com o placar marcando 2 a 2. O clube gaúcho aos 25 minutos do segundo tempo já tinha dois expulsos e o árbitro teve que encerrar a partida, pois três jogadores do Pelotas promoveram um “cai-cai”. Na época, a FIFA determinava que os resultados dos jogos finalizados a partir do minuto 23 da etapa final deveriam ser mantidos, mas Fernando Miranda, presidente da Liga Sul-Minas, afirmou logo após a partida que o Atlético não encontraria problemas para ser considerado vencedor, devido a atitude antidesportiva do time pelotense e assim foi feito, mesmo com um julgamento previamente marcado. Sem a vitória, o clube mineiro terminaria a primeira fase com 26 pontos e o Tubarão seria o quarto colocado para enfrentar o Cruzeiro. “Sabíamos que era difícil. Mas a desclassificação foi uma frustração”, conta Zabot.

Mesmo com a eliminação, a campanha está na memória do ex-zagueiro, hoje com 37 anos, que largou o futebol um tempo depois da “conquista” para fazer faculdade e se tornar jogador de futsal. Um ano em que o Tubarão foi o melhor catarinense da Sul-Minas. Em 2003, estaria garantido na competição, mas foi extinta. Com poucos recursos, mas com bom futebol e garra, o Tubarão Futebol Clube foi o quinto melhor da região “Sul-Minas”.

7 respostas para “Uma zebra chamada Tubarão”

  1. Muito boa a matéria mesmo. Me faz lembrar do tempo, ainda que garoto fui assistir alguns jogos com meu pai. Desde então a cidade nunca teve tanto apego a um time de futebol. Na legenda da primeira foto o nome do goleiro está Márcio, mas o correto é Miguel.

    1. Li Miguel e escrevi Márcio. Valeu pelo toque. E obrigado pela visita.

  2. Bela Matéria gosto muito de saber de campanhas surpreendentes assim,pena que não foram para as semifinais.

  3. Que saudade desse time!

  4. Fui em quase todos os jogos em Tubarão

    1. Deve ter ficado muito orgulhoso, Rafael. Obrigado pelo prestígio

  5. Tínhamos um time que não tinha medo de ninguém, entravamos em campo pensando no que nós poderíamos joga e não olhávamos quem era o adversário. Lembro com muito orgulho deste tempo bom que vivi em Tubarão

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