Bahia, Sport, Vitória e Fortaleza. Esses são os clubes que venceram nove das dez edições da Copa do Nordeste Sub-20. A única vez que um gigante nordestino não levantou a taça foi em 2016, com o surpreendente Coruripe ficando no topo mais alto do pódio.
Há quatro anos, a competição teve Alagoas como sede, com jogos em Maceió, Arapiraca, Boca da Mata e Coruripe. As vagas na competição foram decididas pelo campeonato estadual da categoria do mesmo ano, onde CRB e Sete de Setembro foram finalistas, com títulos para os regatianos. Porém, o Sete não entrou na disputa, deixando a vaga para o Hulk, que houvera perdido a semifinal para o CRB.
“O nosso objetivo maior nesta competição era só de ser visto por clubes maiores e não de chegar aonde chegamos, pelo elenco que nós tínhamos comparado aos outros, mas graças a Deus conseguimos o inesperado que foi ser campeão”, conta Lázaro, lateral-direito que participou dos seis jogos da campanha.
Na primeira fase, a equipe alviverde teve Ceará, ABC e Americano (MA) como adversários. Nas duas primeiras partidas, vitórias contra os maranhenses e potiguares, por 3 a 1 e 4 a 3, respectivamente, com destaque para Cleicio que fez os três gols na primeira partida e mais um contra o ABC, com o detalhe que foi marcado aos 50 minutos do segundo tempo. O segundo lugar estava garantido, mas havia o risco, mesmo que pequeno, de ser eliminado como um dos dois piores segundos colocados. A equipe foi derrotada pelo Ceará, por 2 a 0, mas passou, naquela que seria a única derrota da campanha.
Nas quartas, uma partida emocionante, a melhor da edição. “O jogo contra o Fortaleza foi um dos mais difíceis e melhores onde conseguimos a virada inesperada”, relembra Lázaro. Contra o Fortaleza, os alagoanos tomaram 2 a 0, com gols de Paulo Henrique e Denis. Aos 31 minutos da etapa inicial, Alan diminuiu a vantagem, que novamente ficou em dois gols, quando Denis voltou a marcar, aos 41. O segundo tempo seguiu com esse resultado até os 27 minutos, quando a reação do Hulk se iniciou: Eloi diminuiu. Aos 42 minutos, Alan fez o segundo dele e empatou a partida. Quando tudo levava a crer em uma decisão por pênaltis, Romisson fez aos 48 e classificou o time.
Para Daciel Santos, zagueiro do Coruripe atualmente e daquele elenco, esse foi o jogo que demonstrava que a luta poderia ser bem mais do que a mera participação. “Nós fizemos uma grande fase de grupos, mas o momento onde eu senti que a gente poderia chegar em um lugar melhor foi no jogo contra o Fortaleza. Mostrou que o nosso grupo é forte e nos deixou com uma moral e uma autoestima elevada”.

A semifinal foi parar nas penalidades, quando o empate em 1 a 1 com o Botafogo (PB) foi sacramentado. Dessa vez, o Coruripe contou com a estrela de Ivson, que foi bem na decisão por pênaltis, e classificou o clube do Leste Alagoano para a histórica final.

O Ceará, único clube a derrotar o Coruripe, se colocou como oponente novamente, dessa vez na final. Obviamente, o favoritismo era alvinegro, mas não se podia negar que além da zebra, uma vingança seria cometida com a vitória. Em jogo equilibrado, a final foi definida aos 45 minutos do segundo tempo, com gol de pênalti, marcado por Mateus, coroando a única taça interestadual do clube, a Copa do Nordeste Sub-20 2016.
“A sensação foi maravilhosa, algo inexplicável naquele momento. Sabíamos da dificuldade do jogo e quando vimos o resultado final foi gratificante”, destaca Daciel, que entrou no decorrer da decisão, para ajudar no título inédito.
Da esperança às precoces carreiras
A empolgação pelo histórico título foi grande e não poderia ser diferente. O Coruripe possui muita tradição no futebol alagoano, com três taças de campeão estadual: 2006, 2007 e 2014.
Desde 2016 no Verdão Praiano, Joécio Barbosa era o comandante do clube. Ele já fez de tudo na equipe: foi auxiliar e treinador do time masculino e, em 2018, foi o comandante da equipe feminina. Nascido em Alagoas, ele brilhou mesmo como jogador do Sport, onde ficou entre 1988 e 1993.
Na final contra o Ceará, era permitida a substituição de cinco jogadores nos mesmos moldes do momento de fechamento desse texto devido a pandemia da COVID-19. Joécio utilizou os 16 jogadores que tinha direito. Veio o título, a esperança, mas a realidade em 2020 é que apenas quatro jogadores relacionados naquela partida continuam jogando profissionalmente, segundo nossa pesquisa. O lateral Lázaro e o zagueiro Daciel Santos continuam defendendo as cores do Coruripe, onde disputaram Alagoano e Série D nesse ano.

Romisson e Alan, um dos artilheiros do clube e da competição, com quatro gols, também, estão na ativa. Romisson foi um dos destaques da equipe profissional no Alagoano 2017, que lhe rendeu uma transferência para o Londrina no mesmo ano. Desde então, se tornou um jogador de Série B, apesar que nesse ano, defendendo o Vitória fez apenas seis partidas, sendo uma na Série B, onde está emprestado pelo Guarani.
A carreira de Alan, que virou Alan James, chegou a ter uma passagem pela base do Grêmio, onde não vingou. Retornou ao estado para defender o Dimensão Capela. Rodou por Fluminense de Feira, Itabaiana e CSE, até chegar ao Globo, onde disputa a Série D, tendo mais partidas como reserva do que titular.

O outro artilheiro do Coruripe e da Copa do Nordeste Sub-20, foi Cleicio, que subiu para o profissional em 2017, no mesmo ano foi para o Dimensão Capela e não tem mais registros. O goleiro Ivson, vital na garantia da vaga na decisão, tem como último registro, a passagem pelo profissional do próprio clube no ano seguinte ao título.
Para Lázaro são muitos os fatores para poucos terem continuado no futebol. “Olha as vezes foi por faltas de oportunidades ou por ter oportunidade e não saber aproveitar. A única certeza que sei dos quatro que ficaram desta competição, é que cada um aproveitou cada oportunidades mesmo nas dificuldades”.

Uma das questões que contribuiu para que boa parte do elenco não continuasse foi a questão financeira, segundo Daciel. “Todos nós sabemos que o futebol não é sempre da forma que queremos. Eu acho que o que faltou uma continuidade no nosso trabalho e, também, a questão financeira. Muitos optaram pelo trabalho (em outra área) do que que pelo futebol, porque naquele momento o futebol estava dando menos recurso do que um trabalho normal”.
Do título, o Coruripe guarda uma grande história, a surpresa que o colocou no meio de gigantes no quadro de campeões da competição, mas por outro lado demonstra que é preciso ser feito algo (em toda base não apenas do clube alagoano) para que não tenhamos tantas carreiras precoces de jogadores que poderiam estar por aí jogando futebol.
Deixe uma resposta