“Por que o Mundial Feminino 2019 será o mais importante da história?”, por Mayra Siqueira

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Mayra Siqueira é jornalista, comentarista esportiva e historiadora com passagens pela CBN, Rádio Globo, SporTV e globoesporte.com

Serão 24 times, em um país que sempre arranja turistas de todo o mundo pelos seus encantos. Estados Unidos favoritos a manter o título, com uma sequência excelente de jogos e favoritismo. Tem a história da filha do Bob Marley ajudando a Jamaica, primeira rival do Brasil na estreia. Tem apenas quatro seleções que venceram a Copa do Mundo desde 1991… e tem mais um monte de coisas e curiosidades que eu poderia mencionar.

Isso te convenceu que esse Mundial será o mais importante? Pois é, parece mais lead de texto rotineiro de jornalista. Eu queria falar como jornalista também, claro, mas como mulher, comentarista esportiva e uma lamentável jogadora de futebol com as amigas nas horas vagas.

Por mais irritante que possa ser para alguns seres reclamantes, vivemos a fase em que mais se fala de mulheres, seus direitos e feminismo em toda a história dessa humanidade. História baseada em, contada por e para homens.

Nunca a internet, redes sociais e conexões por todo o mundo debateram tanto sobre a necessidade de igualdade das mulheres nas mais variadas esferas sociais. Inevitavelmente também no esporte. Também na modalidade mais popular na grande parte de países deste planeta. Desde discursos e demandas por salários se não iguais, ao menos não tão absurdamente discrepantes, até as tentativas de mostrar que, olha só, o futebol feminino não é tão chato quanto nos acostumamos a ouvir (e até a eventualmente falar).

Seja a fórceps – com a Conmebol obrigando os times de futebol masculino a terem uma organizada e estruturada equipe feminina -, seja com os times e iniciativas que literalmente ralaram muitos joelhos em gramados sintéticos inapropriados por anos, debaixo de sol escaldante em horários inadequados de jogos e campeonatos mais negligenciados que os de várzea masculina.

Cruzeiro e Fluminense foram dois clubes da Série A que tiveram que montar equipe feminina para entender as exigências das entidades gestoras (Foto: Laís Patrício/Fluminense FC)

Esse não é um texto de reclamação. Mas sim de proclamação! E, claro, também de comemoração. Chegamos ao Mundial que tem mais atenção da mídia – mídia essa que, por mais que também carregue parcela de culpa, não pode ser responsabilizada de forma solitária pela ausência de audiência que a sustenta nos eventos de futebol feminino. Ao Mundial cuja campanha e trajetória foi acompanhada pelos canais televisivos, sites especializados e formadores e formadoras de opinião da era das redes sociais. Cujo trabalho do treinador só não sofreu um escrutínio popular maior do que quando a primeira e única mulher assumiu o comando da seleção feminina nacional.

É ainda tímido, se em tom comparativo, o trabalho da CBF com a equipe feminina. Mas há algum trabalho, há olhares e há, como nunca antes, público e engajamento. Há duas competentes comentaristas mulheres escaladas pelo principal canal esportivo pago da televisão nacional, projetos de transmissões amadoras em diversos pontos do país, com narração e comentários de mulheres. Se isso ainda são ações necessárias para a popularização do futebol feminino, que assim seja.

Até que não seja mais empurrado. Até que seja o mais natural possível. Até que resistência possa ser apenas um público apaixonado. Até que a militância possa se divertir em simplesmente pegar a pipoca na hora do jogo, sonhar com uma camisa autografada pela Debinha, e acompanhar uma transmissão ao vivo na Globo com comentários da seis-vezes-melhor-do-mundo, Marta, ao lado de um gritante Galvão Bueno: “Olha o que elas fizeram, olha o que elas fizeram!”

Vai que é tua, mulherada.

Uma resposta para ““Por que o Mundial Feminino 2019 será o mais importante da história?”, por Mayra Siqueira”

  1. Adorei. Vamos mulherada.

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