A aventura kosovar do goleiro Victor Golas

Entre setembro e dezembro de 2018, Victor Golas, atual goleiro do Maringá FC, teve uma estadia no futebol do Kosovo, onde fez sete jogos pelo KF Trepça. A ida do jogador foi totalmente inusitada, seja pela forma como recebeu e o responsável pela proposta. Victor foi campeão da Copa São Paulo 2006 com o América de São José do Rio Preto e a vida te encaminhou para formar carreira na Europa, mas decidiu voltar ao Brasil, após curtas passagens por Linense e Londrina. Confira a entrevista com o goleiro e as aventuras pelo Kosovo…

Como surgiu a proposta para jogar no Kosovo?

Na verdade, com esses programas de estatísticas, como o Wyscout. Eles viram meus vídeos e estatísticas e entraram em contato comigo via redes sociais. A princípio, eu fiquei surpreso, pois quem entrou em contato comigo foi o filho do presidente. Foi muito inusitado, mas o futebol hoje em dia está muito modernizado.

Qual sua análise do futebol local?

Achei um pouco amador, por isso procurei voltar. Eles têm apenas dois anos de UEFA e o país tem dez anos (de independência), mas tem muito a crescer ainda, a melhorar.

Como era a estrutura do Trepça em relação as outras equipes que você jogou?

Era básica. Tinha um pouco de cada coisa, tudo funcional, mas nada de muito moderno.

A equipe de goleiros do KF Trepça, com Victor Golas (o último na direita)

Você chegou a acompanhar a seleção alguma vez?

Assisti um jogo! Eles estão bem na Liga das Nações.

Tem uma disparidade entre o futebol jogado na seleção e no campeonato?

Tem bastante, porque só tem um jogador, inclusive um goleiro do Prishtina, que é o único jogador do campeonato do país que joga na seleção. A maioria dos jogadores estão na Alemanha, França, Hungria, e acaba tendo uma disparidade grande sim.

Como é a vida no Kosovo?

É o custo de vida mais barato que eu já vi na minha vida. Isso acaba afetando positivamente na qualidade de vida. Nós jogadores fugimos um pouco do padrão salarial da população. A salário mínimo lá é de 130 euros, então só por aí você vê o custo de vida.

Sobre a Guerra do Kosovo terminada em 1999 e apenas em 2008 teve a Declaração da Independência, oficializando o fim do conflito. Você sentiu algum receio população sobre isso?

Bastante! O clima de tensão e hostilidade ainda é muito grande entre eles. Inclusive na cidade que estava, que era Mitrovica, do outro lado do município tinha um rio que separava kosovares e sérvios. A gente escutava tiros. Não sei se era treinamento, era helicóptero passando a todo momento, então a guerra está muito presente neles.

Como é relação do povo kosovar com o futebol?

Eles são fanáticos, mas ao mesmo tempo não se importam muito. Eles são fanáticos para criticar, mas não são para apoiar. Não sei se tem a ver com a recente hostilidade da guerra ou falta de fraternidade, mas são um pouco frios com os jogadores.

Brasil, Portugal e Bulgária

Sobre o seu retorno ao Brasil, qual a expectativa para o ano que vem?

Excelente. O Maringá dá todo respaldo necessário para a gente fazer um bom campeonato. Tem os um grupo bom, trabalhador e humilde. A expectativa é a melhor possível para o Paranaense.

Victor Golas é um dos goleiros do Maringá para a temporada 2019 (Foto: Rodrigo Araújo/Maringá FC)

Você tem boa parte da sua carreira fora do Brasil? Foi algo que você planejou ou aconteceu?

Foi natural, apesar de ter cidadania polonesa e portuguesa. Eu, com 15 anos, fui campeão da Copa São Paulo com o América de São José do Rio Preto. Joguei o outro ano com 16 anos, quando ainda era sub-21. Acabou que isso despertou interesse dos clubes da Europa, como Sporting, Barcelona e Benfica. Primeiro fui para o Barcelona e depois para o Sporting. Então, acredito que por esse destaque, ser brasileiro e ter dupla cidadania facilitou minha ida.

Como é que foi sua passagem por Portugal?

O que eu sei (no futebol), eu aprendi lá. Eu fui formado lá. Eu cheguei com 16 anos e fiquei até os 24. A estrutura é muito boa. Foi um momento de aprendizado que eu levo para minha vida inteira.

E a sua passagem pelo Botev Plovdiv?

Acredito que foi o melhor campeonato que eu fiz na minha carreira. Fiz cerca de 30 jogos. Fui eleito o segundo melhor goleiro do campeonato, só perdi para Stoyanov (da seleção búlgara). Em seguida, eu achei que ia dar um salto muito grande, mas acabou que as coisas não aconteceram da maneira que planejei. Aí voltei ao Brasil, onde foi a primeira vez que pensei em voltar.

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