Reportagem inclusa na Revista Série Z N.3 (leia abaixo)
O passado, o presente e o futuro de uma das melhores histórias de um clube alternativo, o eterno União São João de Araras
Privatti; Kiko, Eduardo, Cavalcante e Carlinhos; Vanderlei, Adauto e Juca (Muniz); Celso Luiz, Cássio e Odair (Valdir Lins). No banco, o treinador era João Magoga. Com esse time, o União São João conquistou em um domingo a tarde, dia 6 de dezembro de 1987, o acesso para a primeira divisão do Campeonato Paulista, com uma vitória por 1 a 0 sobre o Rio Preto, no estádio Engenho Grande. Ali se iniciava um arranque bem sucedido, daquelas coisas que acontecem poucas vezes. Começava a saga rumo a primeira divisão nacional.
Naquele ano, Marcelo Valem, hoje bancário e pesquisador de futebol, tinha 13 anos e começava a acompanhar o clube de sua cidade. Tanto que o jogo do acesso é o mais marcante para ele, até hoje. “Foi a maior festa que vi na cidade. Nunca mais esquecerei esse momento, talvez por ter sido o primeiro grande momento da história do União. E eu estava presente”, cita Marcelo, que começou a ir aos jogos com seu pai. Nove dias depois do acesso, o título do escalão foi confirmado pela equipe de Araras.
Veio 1988, a estreia na elite estadual, a inauguração do estádio Hermínio Onetto, nome do dono da Usina São João e idealizador do clube, mas o mais importante estava guardado. Um ano e três dias depois do título estadual, foi a vez da afirmação, com a conquista do Brasileiro da Série C, após dois empates contra o Esportivo de Passos (MG). A Série A era o próximo objetivo, que apenas pôde ser conquistado em 1992, quando uma mudança polêmica foi orquestrada por Fábio Koff, então presidente do Clube dos 13 e futuro mandatário do Grêmio, clube que estava na segunda divisão nacional.
Ao invés de duas equipes subirem, 12 conquistaram o acesso. O Grêmio foi nono e, o União ficou uma posição acima e conquistou a vaga na elite nacional.
Durante esse período, um ídolo surgiu. Para Marcelo, o melhor que passou por ali, o meia Glauco. “Ele jogou entre 1988 e 1993, depois voltou em 1994 e 1995. Meia habilidoso, chutava bem, passava bem e fazia belos gols. Jogou nos melhores times do União. Na minha opinião foi o melhor jogador que já passou por aqui”.
O time do interior paulista permaneceu por três temporadas na Série A, até o rebaixamento de 1995, no entanto, não demorou para retornar, após conquistar o mais expressivo título de sua história, a Série B de 1996. Em 1997, não repetiu a regularidade da estreia no primeiro escalão e foi rebaixado com a lanterna. Ali se iniciava, uma queda, nada de desesperador até o momento, mas havia um declínio.
No Paulista, a equipe continuou na elite até 2006 e três anos antes, se findou a permanência na Série B. A realidade era a segunda divisão. Nesse período, o União São João continuou conquistando novos torcedores, como Leonardo Pereira e Jhonatas Diego. O primeiro tem 22 anos e sua história “se confunde” com o Verdão, pois jogou na equipe nos seus 16, 17 anos e seu pai trabalhou no clube por 23 anos. O segundo, mais conhecido como Jhon, 22 anos, acompanha a equipe desde 2009. Os dois têm algo em comum quando o assunto é ídolo. Como não viram o sucesso dos anos 1990, Junai, meio-campo que participou de campanhas na A-2, segundo eles, um cara sensacional, de muita técnica e ótimo cobrador de faltas é o que ficou marcado.
Por muitas vezes, o retorno a Série A-1 era evidente, mas o que veio foi uma decepção inimaginável: o rebaixamento para a A-3 em 2012, o descenso para a Série B em 2013, a campanha ruim na quarta divisão em 2014 e o fechamento das portas em 2015, devido a uma crise financeira que assola a equipe.
Desde então, o torcedor ficou sem manhãs, tardes e noites de Hermínio Onetto. “É uma sensação de tristeza, que eu não desejo a nenhum torcedor, é algo muito complexo, é a mistura de tristeza e ao mesmo tempo esperança de um dia rever o União dentre os grandes do Brasil”, afirma Jhonathan. Para Marcelo, em certos momentos parece que é mentira. “Um time que já esteve na Série A-1 do Paulista e na Série A do Brasileiro chegar nesta situação é muito triste. Às vezes a gente nem acredita que seja verdade”. Leonardo cita o vazio que sente. “Não é qualquer time, até então, novo no cenário nacional que ganha a Série C e B. Ter visto jogos emocionantes, estádio lotado e depois nos últimos anos ver jogos com estádio vazio, praticamente sem apoio. É uma realidade que nunca me passou pela cabeça que iria ver”. Tristeza é a palavra que ecoa entre os unienses.
Havia a esperança remota de a equipe voltar a disputar o Paulista Série B em 2016 (e posteriormente, 2017) ou até mesmo, a Liga de Futebol Paulista, para se reorganizar. Nada aconteceu. O que resta é saudade. Palavra que os três trabalham no dia-a-dia, com projetos para manter viva a história uniense. Marcelo é administrador do site União Mania, que reúne informações históricas, além de colecionar uniformes e jogos em vídeo. Leonardo e Jhonathan mantêm uma página no Facebook, a União de Araras na Memória. A expectativa é por um retorno, mesmo com a desconfiança da torcida, para recolocar o clube novamente nos trilhos.
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