Taça Ioduran: três edições e dois WOs

Desde os primórdios do futebol brasileiro, Rio de Janeiro e São Paulo sempre promoveram encontros entre as equipes dos estados, o que naturalmente acirrou uma rivalidade e serviu como precursão para o Torneio Rio-São Paulo.

Um desses campeonatos criados foi a Taça Ioduran, um dos primeiros casos de campeonato com naming rights no Brasil, apesar do encontro ser promovido pelo Laboratório Ioduran, que dava o nome a competição.

O campeonato “foi” realizado entre 1917 e 1919. As aspas se explicam pelo inusitado: apenas em uma oportunidade houve um jogo de fato, já que na primeira e última edição, os clubes paulistas não compareceram aos jogos. É algo que deixou marcada a competição.

Em 1917, o America e Paulistano foram os primeiros clubes da Taça Ioduran, por serem campeões do Rio (chamado Distrito Federal na época) e São Paulo, respectivamente, em 1916, que conquistaram esse “direito”. A partida seria realizada no Rio de Janeiro, assim como em todas as outras edições, mas o Paulistano não compareceu ao local, em jogo que seria realizado em abril daquele ano, mas sem a data certa. O título ficou com o America.

Na que seria a última edição, em 1919, novamente, o Paulistano iria representar São Paulo, mas um novo WO foi realizado pela equipe, que dessa vez iria encarar o Fluminense, em 27 de agosto. O Fluminense foi sagrado campeão.

Em 1918, o Fluminense e Paulistano disputaram a única edição que houve uma partida com todos os 90 minutos. O Paulistano mandava no futebol paulista e esteve apta a todas as edições da Ioduran, mas apenas na segunda edição que se interessou em entrar em campo. As duas equipes eram tratadas como as “melhores do Brasil”, pela imprensa, mas podemos combinar que não dava para ser mensurado, devido a outros estados terem futebol e comunicação ser totalmente diferente da atual.

No dia 7 de abril de 1918, em General Severiano, estádio do Botafogo, as duas equipes compareceram, ou melhor, o Paulistano apareceu. Inicialmente, o jogo seria realizado nas Laranjeiras, mas mudou-se o local para que fosse em um campo “neutro”. Relatos da época dão conta que cinco mil pessoas foram ao estádio e parte dos espectadores apareceu para apoiar o Paulistano, mesmo não tendo informações se seriam paulistas ou torcedores de outros clubes cariocas.

O Fluminense entrou em campo com Marcos Mendonça; Sylvio Vidal, Chico Netto (capitão); Laís, Oswaldo Gomes, Fortes; Mano, Zezé Carlos Guimarães, Harry Welfare, Celso da Silva e Machado. O escrete paulistano foi de Cunha Bueno; Carlitos, Orlando (capitão); Sergio, Gullo, Ferreira; Agnelio, Mário Andrade, Zonzo, Mariano e Madureira. Pelo que se vê, as duas equipes apostaram no 2-3-5, em partida apitada por Antônio Augusto de Almeida.

A partida foi emocionante, com uma virada incrível. O Fluminense abriu 2 a 0, com gols de Machado, aos 11, e Zezé, aos 39 minutos da etapa inicial. No segundo tempo, o Paulistano diminuiu aos 5 minutos, com Zonzo e quinze minutos depois, empatou com Mário Andrade, em penalidade máxima. Aliás, Andrade se tornou o herói do dia, quando aos 42 minutos fez o gol da vitória e do título da Taça Ioduran 1918, a primeira e única edição realizada dentro de campo e o único título paulista.

Em 1920, a competição foi extinta para dar lugar a Copa dos Campeões Estaduais, com o ingresso do campeão gaúcho, que não foi realizada pela Ioduran, mas já assumida pela CBD. A história que sucedeu a disputa Rio-São Paulo todos sabemos…

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