Jogadores brasileiros na Inglaterra não são maioria entre os estrangeiros. Algo comum historicamente. Mas eles estão lá, isso é fato. São 14 na Premier League, quatro na Championship, League One, League Two e Conference têm um, cada. A sexta divisão tem dois.
Entre esses, está Raphael Branco, zagueiro do Swindon Town, que disputa a League One, terceira divisão inglesa. O jogador tem uma história singular. A Inglaterra é onde seu futebol se desenvolveu. No Brasil, apenas uma experiência. E mais, a carreira dele começou nas categorias de base do Kashiwa Reysol, do Japão. Uma ótima história e ele nos contou um pouco nessa entrevista ao Série Z.
No Brasil, você teve passagem por quatro clubes, seja na base ou profissional. Como foi o começo da carreira?
Eu comecei a jogar bola no Japão, por incrível que pareça, quando me mudei aos seis anos com minha família. Entrei na escola de futebol do Kashiwa Reysol, eu e meu irmão, e lá fiquei até os nove anos de idade, quando retornamos ao Brasil. Morávamos em Campinas e logo ingressei nas categorias de base do Guarani, com nove anos onde fiquei por lá ate os 15 anos.
Desde quando o futebol te chamou a atenção e você definiu que queria isso para a sua vida?
Para falar a verdade, o futebol faz parte da minha vida desde que nasci. Meu pai, Wilson Branco é ex jogador. Foi goleiro e atuou por alguns grandes clubes do Brasil. Nos anos 80 esteve presente no grande time da Ponte Preta, com Carlos, goleiro da seleção, Juninho, zagueiro. Após se aposentar, ele se tornou preparador de goleiros. Por causa dele, eu e minha família fomos morar no Japão, quando ele trabalhou no Kashiwa Reysol por três anos. Então, eu e meu irmão crescemos em um lar onde futebol era prioridade, o principal assunto. Então escolhi o futebol desde que nasci.
Do Porto Alegre, seu último clube no Brasil, você acertou sua ida para o futebol inglês. Como chegou a proposta? Se assustou?
Quando fiz a escolha de não permanecer no Porto Alegre, iria disputar primeira divisão do campeonato gaúcho. Com 20 anos, apareceu a oportunidade de ir para o Brighton & Hove Albion, através do meu DVD. A princípio eu só iria ficar 15 dias treinando para ver como era o futebol inglês. Mas a experiência foi tão boa que o treinador Gustavo Poyet entrou em contato com meu empresário pedindo para eu ficar mais duas semanas. Após um mês de experiência ele entrou novamente em contato dizendo que queria minha contratação e que eu precisava do passaporte europeu para poder assinar contrato. Retornei ao Brasil e meus pais começaram todo o processo. Com todos os documentos levantados demos entrada ao processo para poder ter o passaporte italiano. Tudo estava correndo muito bem, até o processo começar a atrasar e o que era para ficar pronto em três meses ficou pronto em nove. Me prejudicou muito. E fiquei lá esse tempo fazendo parte do time principal, mas não podia atuar em jogos oficiais somente em amistosos. Esse tempo foi muito importante, pude aprender muito e crescer profissionalmente e espiritualmente. Então com o passaporte em mãos e tudo certo para poder assinar o contrato, o Brighton exigia uma carta de liberação dos clubes que eu tinha atuado no Brasil, a famosa Lei de Formação. Eles queriam que os clubes abrissem mão de receber esse valor, mas isso só iria acontecer se os clubes que eu atuei fossem atrás, como seria praticamente impossível fazer isso eu e meu empresário decidimos voltar ao Brasil. Fiquei no aguardo por alguma proposta, quando surgiu a oportunidade de ir para Whitehawk FC e como o clube era de divisão menor não precisaria pagar a compensação para os clubes que atuei. Era uma chance de entrar na inglaterra novamente para poder começar meu sonho de atuar na melhor liga do mundo que é a Premier League.
Você disputou a sétima divisão da Inglaterria pelo Whitehawk. O nível da divisão é bom? Pode ser comparado ao que no Brasil? E a organização, torcida e qualidade?
Fomos campeões daquele ano. Joguei 28 jogos e marquei dois gols. Um clube organizado por disputar a sétima divisão inglesa. Posso dizer que é mais organizada que muitos clubes de Série C e em alguns jogos, o publico chega até mil torcedores.

Seu atual clube é o Swindon Town. Foi outro pulo na sua carreira. Como é a vida em Swindon? Como é a relação com a torcida? O que mudou desde que chegou ao clube?
Através do ex-auxiliar técnico do Brighton recebi a oportunidade de poder ingressar no Swindon FC há dois anos. Hoje, estou bem adaptado a cidade, ao clube e graças a Deus tenho um bom relacionamento com a torcida. Aqui eles gostam de jogador que se doa, se entrega e essa é uma das minhas características. Temporada passada terminamos em oitavo, então tivemos uma evolução muito grande. Muita coisa mudou desde minha primeira temporada. Primeiro ano foi de adaptação, tanto ao futebol, como a língua, costumes e frio. Segundo ano foi um ano de aprendizado, saber jogar em campos pesados, com lama. O terceiro ano foi um ano de poder praticar tudo que aprendi, claro que a cada dia aprendo uma coisa nova, mas não foi fácil se adaptar ao futebol inglês.
Recentemente, o Série Z falou um pouco sobre Massimo Luongo, seu companheiro de equipe. Como é ter um selecionável ao seu lado, sendo que está numa terceira divisão nacional?
Poder ser companheiro de jogadores de nível de seleção é sempre muito importante. Hoje no Swindon, temos Massimo Luango, pela Austrália, e o Yaser Kasim, pelo Iraque. Os dois disputaram a Copa da Ásia fazendo belíssimo trabalho. Isso é muito bom para poder divulgar o nome do Swindon e também por saber que a League One tem jogadores de nível de seleção.
Que histórias você tem sobre a sua estadia na Inglaterra? Seja dificuldades ou contos engraçados?
No primeiro ano não falava inglês, então passei muitas dificuldades com isso. Não entendia o que diziam nos treinos, o que estava acontecendo em muitas ocasiões. Quando ia pedir alguma refeição em algum restaurante sempre pedia comida errada. Então foi difícil, mas hoje graças a Deus domino o inglês.
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