
Santos, Portuguesa Santista e Jabaquara, uma relação de rivalidade e companheirismo entre os três clubes da cidade de Santos. Nos primeiros anos de profissionalismo, a rivalidade entre eles chegou a movimentar a cidade, mas também serviu de mercado de transferências principalmente para reforçar o Santos.
Pagão, Antoninho e Cyro são grandes ídolos dos primeiros 50 anos do clube da Vila Belmiro. O centroavante Pagão foi formado na “Lusa Santista” e depois seguiu para a Vila para formar a “linha dos três pês”, junto com Pepe e Pelé. Antoninho reinou nos anos 1940, no período “sem títulos” do Santos, por isso é considerado como um injustiçado na história do clube, “O Arquiteto”, como era conhecido, encerrou sua carreira no Jabaquara.
Entre os grandes ídolos, o goleiro Cyro jogou pelos três clubes. Vindo do Mato Grosso do Sul, o goleiro passou pelo Santos (1934 a 1940 e 1943), Jabaquara (1944 – 1946) e encerrou a carreira na Portuguesa.
O “mercado de transferências” entre os clubes ficou defasado. Mas no começo do século um jogador refez o caminho de Cyro: Bruno Agnello.
Formado na base santista, Bruno conviveu com a segunda geração dos Meninos da Vila, que era comandada por Robinho e Diego. Com poucas chances passou também pelos “rivais” da cidade, na qual ele nasceu. Da Vila coleciona amizades com Paulo Henrique Ganso e Neymar.
O mundo da bola gira. Seis anos após deixar sua cidade natal, o meio-campo se preparava para começar um novo ciclo no Chipre, mas Portugal continua no seu caminho. Ele acertou com o Moura, da terceira divisão portuguesa.
Conheça a história de Bruno Agnello, nesta entrevista que ele concedeu ao “Série Z”.
Você começou sua carreira no Santos na época da segunda geração dos Meninos da Vila. Você chegou a conviver com Robinho, Diego e companhia? Esperava mais chances nos primeiros anos?
Sim, fiz a base toda no Santos FC, jogando futebol de campo e salão. Não poderia ter começado de maneira melhor, por ter atuado ao lado dessas feras do futebol mundial. Diego e Robinho são alguns dos bons amigos que fiz na época de Santos, muitos outros ainda continuam jogando profissionalmente pelo mundo (Luisinho, Bruno Moraes, Halisson, Diego Tardelli, Bruno Martins são alguns exemplos), e até hoje mantemos contato mesmo com a distância que a carreira nos opõe. Em relação a ter mais chances na época que estive lá, acho que merecia mais tempo de clube, mas o futebol sempre reserva esse tipo de surpresa, nem sempre as coisas acontecem do jeito que entendemos ser justo. Tenho um carinho muito grande pelo Santos FC, e por todos que trabalham e jogam lá. Minha recuperação “fiz” no CEPRAF, com a ajuda do Avelino, Thiago, Rafael e Fernando (profissionais de ponta, que me deixaram em perfeito estado), e também aos jogadores do clube, que me tratavam e me acolheram como se fizesse parte do elenco.
Após o Santos, você jogou nos outros dois clubes da cidade, o Jabaquara e a Portuguesa Santista. Qual é a sensação de ter passado pelos três clubes da sua cidade natal?
Sem dúvidas é uma honra como cidadão santista ter passado pelos três grandes clubes da minha cidade, nem todos jogadores conseguem ter essa experiência. Considero muito produtiva para minha carreira, tendo em base que vivenciar as diferentes realidades de competições estaduais que os clubes disputam. No Santos iniciei a carreira ao lado das feras que já citei, e na Portuguesa Santista assinei meu primeiro contrato profissional, podendo jogar um campeonato Paulista de primeira divisão com jogadores como Souza, Rico, Chicão e com o Sr. Pepe como treinador, alcançando uma terceira colocação na tabela (perdendo para o São Paulo FC, de Kaká na semifinal); e depois veio a passagem pelo Jabaquara, um projeto arquitetado por ninguém menos que o Rei do Futebol Pelé e seu grande companheiro, professor Manoel Maria (sem dúvidas foi o treinador que mais acreditou em mim, ele e seu filho Aarão Alves). Devo muito a esse projeto, pois tive meu grande salto na carreira após a disputa da Segunda Divisão do Paulista pelo Jabaquara.
Depois da passagem pelo futebol santista, você acertou a ida para a Arábia Saudita, para jogar no Al-Hilal. Pelo que vi foi curta a passagem. Como foi essa experiência?
Foi à melhor experiência, até hoje, que tive no futebol. Após fazer uma excelente metade de campeonato pelo Jabaquara, surgiu a oportunidade de atuar pelo maior clube da Arábia Saudita, o Al-Hilal .Tive uma passagem de um ano (temporada 2007-2008) onde cheguei ao clube com uma expectativa muito grande, sendo apelidado de “Kaká Saudi” (Kaká das Arábias), devido ao estilo de jogo parecido. A vontade era de continuar muito tempo no clube, conquistei dois títulos lá, mas acabei sofrendo uma lesão no tornozelo que me afastou por um mês e meio, dando assim a chance do treinador romeno Cosmin, que com moral após as conquistas, optou por levar um jogador romeno para o meu lugar. Mas até hoje tenho carinho da torcida que me pede para voltar, e isso não tem preço. Quem sabe um dia não retorno ao clube mais uma vez.
A Oliveirense, de Portugal foi seu segundo clube no exterior, seis anos após a passagem pela Arábia Saudita. Como surgiu a proposta de trocar o futebol brasileiro pelo português?
Tive algumas experiências anteriores em alguns clubes de fora do país, porém não cheguei a acordo em relação a contrato. A segunda oportunidade concreta de atuar fora foi a UD Oliveirense. Essa proposta surgiu com a ajuda de um grande amigo, aliás, um irmão que fiz no futebol, e só quem está nesse meio sabe o quanto é difícil arrumar uma amizade verdadeira. Essa pessoa é o lateral-direito uruguaio Jorge Fucile. Na época em que estava tratando no CEPRAF, ele também estava lesionado, e nessa época ficamos grandes amigos. Quando voltou para Portugal, ele me apresentou para o empresário que cuidava da carreira dele e assim acabou surgindo essa transferência. Devo muito do que está acontecendo hoje comigo ao Fuci, uma pessoa fora de série.
Foram seus primeiros seis meses em Portugal, mas foi sua volta depois de um período de lesões. Portugal foi uma espécie de redenção de seu futebol?
Sim, era a oportunidade ideal que precisava para me reafirmar após esse período de lesões. A parte mais difícil é voltar a atuar sem medo, reconquistar a confiança dentro de campo. Infelizmente no futebol atual, é muito difícil voltar a jogar após um longo tempo parado. Graças às pessoas que me ajudaram, principalmente minha família (sem eles não sou ninguém nesse mundo) isso foi possível, e eu encaro esse retorno em Portugal como a segunda chance para alcançar objetivos maiores na carreira. Sem esquecer também do Dr. Thiago Ribeiro dos Santos, que deixou meu joelho 100% em condições, e hoje em dia posso fazer o que gosto sem nenhum tipo de problema. Outras pessoas também participaram dessa minha volta aos gramados, em especial o personal Marcel Duarte e o fisioterapeuta Tom Lucas Pierin.
Ficou decepcionado com a reviravolta que aconteceu no Chipre?
Alguns amigos já tinham me alertado que no Chipre é complicado de se manter o combinado, mas achava que poderia ter sido diferente comigo. Acho que fui só mais um a ser enrolado por eles.

Como foi a recepção no Moura? Como a cidade recebeu?
Em Moura fui muito bem recebido, não poderia ter sido melhor, aqui estão me tratando como se já jogasse a muitos anos no clube. Me sinto em casa.
E o que seus amigos famosos pensaram sobre essa reviravolta?
Todos ficaram chateados por ver o outro lado do futebol, onde algumas coisas simples de serem cumpridas, não são levadas a sério. Mas me deram a maior força para vir aqui jogar no Moura, sempre me deixando claro que não importa aonde, tem que estar em atividade, jogando, e melhor ainda, em um clube aonde você é valorizado.
Curta a página do Série Z no Facebook
Deixe uma resposta