Daniel Rossi: o único brasileiro na elite tcheca

CONEXÃO FUTEBOL - REPÚBLICA TCHECA

Daniel Rossi com a camisa de seu atual clube, o FK Jablonec (Foto: Facebook FK Jablonec)
Daniel Rossi com a camisa de seu atual clube, o FK Jablonec (Foto: Facebook FK Jablonec)

O futebol brasileiro já teve mais nomes pelos campeonatos nacionais. A Liga Tcheca (Czech Gambrinus Liga) 2013/14 apresenta apenas um brasileiro entre os mais de 400 jogadores inscritos: o meio-campo Daniel Rossi.

Daniel é o único brasileiro dos cinco que disputaram a temporada tcheca passada que continua nesta nova época. Em 2012/13 eram cinco brasileiros em solo tcheco.

O meio-campo começou sua carreira no São Paulo, mas rapidamente acertou sua ida para o Japão, contratado pelo Kawasaki Frontale. Logo voltou e chegou a estar no elenco são-paulino que venceu a Libertadores 2005.  Nascido em Rio Claro, interior paulista, teve a chance de passar pelo clube de sua terra natal em 2007.

O Rio Claro foi seu último clube no Brasil. A República Tcheca era a próxima parada, seu primeiro clube foi o Sigma Olomouc ( foi contratado para a temporada 2007/08), onde ficou até dezembro de 2012. Em sua passagem dois títulos.

Atualmente, Daniel Rossi joga pelo Jablonec, onde conquistou mais dois títulos. Seu clube foi fundado em 5 de junho de 1945 e ao longo dos seus 68 anos já teve nove nomes diferentes. A última mudança resultou no FK Baumit Jablonec, o que chama atenção é a entrada do nome “Baumit” que se refere a uma empresa de materiais de construção que é a parceira do clube desde 2008.

Daniel Rossi nos contou um pouco de sua história.

O São Paulo foi o clube em que você se formou, mas logo foi para o Japão, para jogar no Kawasaki Frontale. Qual é a sensação de antes mesmo estrear pelos profissionais já ser transferido para fora do país?

Minha estreia profissional ocorreu no São Paulo mesmo. Depois da conquista da Taça São Paulo de 2000, tive a oportunidade de jogar no Japão. Fui emprestado ao Kawasaki Frontale quando tinha apenas 19 anos e felizmente realizei um bom campeonato, sempre como titular no time japonês.

Como foi a passagem pelo Japão?

Eu só pensava e vivia em função do futebol (uma característica minha desde criança). Talvez se fosse hoje, eu teria aproveitado um pouco do tempo que fiquei no Japão para aprender mais da cultura oriental. É um país muito moderno, tive todo suporte que precisei do time e um grande carinho e respeito dos fãs. Foi um ano muito bom!

Rossi com a camisa do Kawasaki Frontale. (Foto: Facebook Daniel Rossi Silva)
Rossi com a camisa do Kawasaki Frontale. (Foto: Facebook Daniel Rossi Silva)

Você acabou voltando para o São Paulo em um momento de glórias para o clube. Como foi essa passagem em meio à conquista do Mundial de Clubes de 2005?

Quando o São Paulo foi campeão Mundial em 2005 eu já não fazia parte do elenco, participei apenas da conquista do campeonato Paulista e da copa Libertadores desse ano. Toda minha passagem pelo São Paulo foi muito boa, pude trabalhar com pessoas extremamente qualificadas com quem aprendi muito, fiz importantes e grandes amizades.

Seu primeiro clube na República Tcheca foi o Sigma. Como surgiu a proposta? Esperava por isso?

Eu joguei o campeonato Paulista de 2007 pelo time da minha cidade, o Rio Claro FC. Após o final do campeonato surgiu essa oportunidade através de um empresário que eu tinha na época. Eu não imaginava jogar na República Tcheca, mas ao longo da minha carreira houve propostas para o futebol internacional, muitas das quais não passaram de especulações. Por isso, sempre estive preparado para jogar fora do país.

São mais de seis anos fora do Brasil. Já se acostumou com a República Tcheca? 

Posso dizer que sim, mas o inverno ainda me incomoda bastante. São meses com neve e temos que treinar/jogar com temperaturas negativas. O idioma tcheco, (eu) já domino e nunca tive problemas com alimentação (aqui eles comem bastante batata e carne de porco, mas é possível encontrar muita coisa que temos no Brasil).

Durantes esses anos muitas histórias engraçadas devem ter acontecido, devido à língua e cultura do país. Tem alguma que te marcou?

Logo quando eu cheguei, perguntaram se eu tinha “bunda”. Fiquei totalmente sem graça com a pergunta… Só depois fiquei sabendo que a palavra tcheca “bunda” significa “casaco” em português.

Como é ser campeão em um país “diferente”?

Jogando pelo SK Sigma Olomouc ganhei a Copa Tcheca (Pohár České Pošty 2012) e a Supercopa Tcheca (Superpohár 2012), algo que foi muito importante não apenas para mim, mas principalmente para o time, afinal foi o primeiro título nacional na história do Sigma. Com o final do contrato em dezembro, assinei com o FK Baumit Jablonec em janeiro de 2013. Em maio fui bicampeão da Copa Tcheca (feito inédito, nenhum outro jogador foi bicampeão desse campeonato nacional) e em julho bicampeão da Supercopa. Posso dizer que deixei minha história por aqui.

O meio-campo e a taça de campeão da Copa da República Tcheca 2012/13. (Foto: Facebook Daniel Rossi Silva)
O meio-campo e a taça de campeão da Copa da República Tcheca 2012/13. (Foto: Facebook Daniel Rossi Silva)
Escudo do FK Baumit Jablonec.

Como você avalia o futebol tcheco atualmente? Quais as semelhanças e diferenças para o futebol brasileiro?

O futebol não é tão famoso aqui como é no Brasil, Inglaterra, Espanha e Itália. Acho que os esportes de inverno são até mais populares e atraem mais público; é o caso do hóquei de gelo, por exemplo. É comum ligar a TV e assistir os mais diversos esportes.

Percebi uma visível evolução no futebol tcheco nesses seis anos, diria que está cada dia mais profissional. Os clubes têm uma estrutura física muito boa, os estádios são modernos e bem cuidados. A maneira de jogar se assemelha com o futebol europeu: o jogo é mais intenso, a marcação é mais forte (o juiz não dá muitas faltas), esquema tático mais defensivo.

Outra diferença é que treinamos no dia de jogo! Pela manhã temos um treino completo (15-20 minutos de corrida, fundamentos com bola, tiros curtos – 10 a 15 metros – rápidos, jogo “bobinho”, chutes a gol e cruzamentos), almoçamos todos juntos e vamos para o estádio para o aquecimento antes do jogo (e não é só alongamentos, têm mais corridinhas, chutes a gol). Às vezes, depois do almoço ficamos concentrados em algum hotel até a hora do jogo. Concentrações mais longas, como no Brasil, são praticamente raras.

Na manhã seguinte a um jogo também temos treino, mesmo até quando jogamos fora e chegamos de madrugada! Só depois que temos folga de meio dia ou um dia.

Pensa em voltar ao Brasil de imediato?

Tenho vontade de voltar a jogar no Brasil quando meu contrato na Europa não for mais renovado, no fim da minha carreira, algo que não está muito longe… Porém, minha vontade é de ficar em algum time perto da minha cidade ou mesmo na minha cidade.

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