As cinco mil vozes | Crônicas do Cinco Mil FC

Texto que fez parte da Série Z N.1, que pode ser lida, abaixo. Essa “republicação” é feita para debater os recentes casos de Novo Hamburgo, Santos-AP e Rondoniense…

Me chamo João. Sou conhecido na minha cidade como “Joãozinho 5 mil”. Pode parecer estranho, mas esse apelido, eu ganhei por ser um assíduo frequentador do estádio Cinco Mil Vozes, local que joga meu time, o Cinco Mil Futebol Clube. Percebeu que tudo tem cinco mil no meio? Pois é.

Isso porque, a cidade que moro, Dez Mil (sim, esse é o nome), no interior do país tem como grande ponto de lazer, o estádio que veio primeiro que o clube. O futebol amador utilizava o estádio, não arena, que recebe outros eventos, também. O local nasceu com o “lema” de comportar a metade da população do município.

O futebol amador era forte e então, os clubes resolveram se unir (parece mentira) e profissionalizar uma equipe para a cidade. Nasceu assim, o Cinco Mil, em homenagem ao nosso estádio.

Começamos na segunda divisão estadual. O primeiro ano foi de experiência e o acesso não veio, mas a torcida lotou o estádio, colocando metade do município lá dentro. Na temporada seguinte mais preparados, nos enchemos de orgulho com o acesso e o título. Uma festa na cidade!

Permanecemos na primeira divisão sem sustos, durante quatro anos. Sempre com a melhor média de público. Na quinta temporada montamos um time muito bom para os padrões locais. Nossa categoria de base era a melhor do estado, buscamos jogadores de fora e deu até para trazer um folclórico atacante.

Fomos campeões! Que dia fantástico! O melhor da história de Dez Mil! O próximo passo era buscar a vaga em uma divisão nacional. O grupo estava fechado e queria continuar. Como o campeonato é “escondido”, os jogadores não ficaram visados.

Desde que entramos no profissional temos a maior média de ocupação dos campeonatos que disputamos. Mantivemos isso no Nacional, que foi duro. Conseguimos a vaga para a segunda fase na última rodada, com um 1 a 0 difícil.

Na fase final, quatro jogos restavam para o acesso e colocar o estado no cenário do futebol nacional. Nas oitavas, dois empates, mas fizemos mais gols fora e nos classificamos para o confronto do acesso.

O primeiro jogo era fora. Não acreditei no que vi. Ganhamos por 3 a 0. Foi indescritível. No jogo de volta lotamos o “Cinco Milão”. Controlamos a partida. O jogo caminhava para o empate sem gols, mas em um contra-ataque nos acréscimos fechamos o placar. O acesso era nosso. Que “troço louco”. Não fomos campeões, mas conseguimos um calendário e as “sobras” da grande mídia.

A felicidade, no entanto virou espanto. A federação diz que iremos participar da “nova” divisão, mas não poderemos jogar em casa. Me perguntei o que há de errado com o estádio. O gramado é bom. Os vestiários são confortáveis. Mesmo com poucas cadeiras, o concreto sustenta a empolgação da torcida. Pode não ser moderno, mas é funcional. Tudo isso será desconsiderado por causa da capacidade? Oras, temos um estádio que coloca metade de uma cidade. Não podemos criar do nada cinco mil lugares. Agora ficamos assim, esperando que possamos convencer os dirigentes a liberarem o nosso estádio. Se subimos em um estádio para cinco mil pessoas é nele que devemos continuar até onde o nosso time nos levar.

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